12 dezembro 2005

APERTAR O CINTO AINDA MAIS?



“Ou as pessoas apertam o cinto e trabalham por menos ou as empresas vão á falência e o desemprego aumenta.”
António Borges, economista, militante do PSD, Vice-Presidente do Banco Goldan Sachs, in “Expresso”

MY COMMENTS: Com o ordenados que auferes talvez, mas já pensaste na maioria dos portugueses, que recebem ao fim do mês, pouco mais que o ordenado mínimo?
A estes senhores politico-economistas é fácil falar. Altos quadros das empresas, esses sim vivem com ordenados injustificados para o que produzem.
Vivemos neste momento, uma economia de “pescadinha com rabo na boca”. É preciso baixar o ordenado dos trabalhadores para as empresas terem lucro. Se não tiverem lucro, encerram. Se encerrarem aumenta o desemprego. Se aumenta o desemprego aumenta os encargos do Estado. Se aumenta os encargos do Estado, aumenta o deficit.
Mas se o Estado baixa-se os impostos! Será que aumentaria o emprego? Será que aumentariam os ordenados? Não haveria mais poder de compra? Não estaria o comércio sempre em boa saúde?
Em Portugal, quer-se ganhar muito, e rápido. Fala-se muito em falta de produtividade no nosso país, mas com os ordenados ganhos pela maioria será que existe vontade de produzir mais? Falta políticas de incentivo. Talvez se houvesse prémios para quem produzisse mais as coisas se alterassem um pouco. Não deixa de ser verdade que muitos trabalhadores são laxistas, mas muitos deixaram de ter vontade de trabalhar mais porque não vêem o reconhecimento do seu trabalho.
Culpa dos vários e sucessivos governantes, são as políticas de desemprego que incentivam os calões a ficar em casa. Poder recusar duas ofertas de trabalho e ficar em casa a ganhar o correspondente ao salário mínimo, fazer o sacrifício de ir trabalhar seis meses e depois voltar tranquilo ao desemprego, fazer uns biscastes por fora e ganhar uns extras, que maravilha. Porquê ir trabalhar por mais cinquenta ou cem euros? Depois ainda são chamados de estúpidos, os que vão trabalhar. Felizmente a Lei foi alterada.
Tal como no cidadão comum existe a ideia de quanto mais ganhar rápido melhor, assim também no Estado se pensa. Porque não pensar como os nuestros hermanos, ganhar pouco de cada vez, mas estar sempre amealhando. Se a contribuição para a segurança social do trabalhador comum deixasse de ser 34,75 % do salário (24,75% do bolso do funcionário e 11% da caixa do patrão), passasse a ser mais reduzida, não será que todos não declarariam o seu ordenado real? Estariam os cofres da Segurança Social, em perigo de esvaziar? As vagas de emprego para os jovens licenciados que tanto se prometem, não seriam bem pagas, se estes fossem colocados em lugares de fiscalização, para acabar de vez com baixas e desemprego fraudulentos e ordenados declarados abaixo do real? Talvez, a quantia que o Estado conseguiria ganhar, por aquilo que perde por estes infractores, chegaria e talvez sobraria para pagar os salários destes possíveis novos funcionários.
Depois também durante muito tempo se cultivou a ideia de que ser patrão é que era bom. Que seria uma forma fácil e rápida de enriquecer. Criaram-se milhares de pequenas empresas, na maioria familiares, para hoje estarem falidas e arruinadas. Os portugueses sempre foram muito ciumentos dos seus vizinhos, amigos, conhecidos, porém ao mesmo tempo muito gananciosos e pouco gostam de repartir. Não seria melhor em vez de se criarem pequenas empresas familiares (quase sempre de marido e mulher ou as recente “unipessoais”), não era preferível terem-se associado várias pessoas, para criar empresas médias, com mais capacidade competitiva, não só repartir os lucros, mas também mais fácil compartir as despesas? Infelizmente esta mentalidade ainda persiste, sobretudo no ramo da construção civil e comércio, felizmente se vai alterando noutras, como os serviços, banca, etc.
A banca, também tem a sua quota-parte de culpa no estado das coisas. É o sector que mais gente tem colocado no desemprego, coloridamente chamada de pré-reforma, tudo em nome do lucro, que não são poucos, pelo que se conclui ao analisar os Relatórios de Contas, apresentados todos os anos. Depois muitos destes ex-bancários vão para empresas de conhecidos, ora para compensar favores do passado ora para continuar a manter influências, trabalhar sem declarar nada, tirando lugar aos mais novos.