15 abril 2005

A travessia no deserto



Hoje podia ler-se na impressa que Santana Lopes não se irá recandidatar à Câmara de Lisboa. Penso que foi a atitude mais sensata que podia tomar. Eu sempre admirei o percurso político de PSL. Se achei que no desempenho da primeira parte do mandato como Presidente da Câmara de Lisboa começou a adquirir uma outra imagem, agora ao determinar ir fazer uma travessia no deserto, mostrou se estar a tornar num estadista. Claro, teve um grande mestre e que é a sua referência – Francisco Sá Carneiro.
Ainda hoje acredito que ele poderia ter sido um bom Primeiro-Ministro, mas não era ainda o seu tempo.
Em primeiro lugar herdou um projecto de Governo que não era o seu e não o poderia alterar porque o Presidente da República não lho permitiria.
Depois teve de formar um Governo em tempo recorde, pois um partido político quando acaba de vencer tem muito mais tempo para organizar a orgânica do seu Governo.
O pior, para agradar a gregos e troianos, teve de formar um Governo para dar job’s aos herdeiros de Durão Barroso e ainda teve de dar lugar aos seus amigos de confiança pessoal e a quem mais parecia que devia favores de passado.
Depois, tinha ainda de lutar contra a própria máquina do partido em que muitos militantes de topo estavam à espera que ele caísse para ocupar o seu lugar e ainda contra certo Rei, Barões e demais corte, em que só dão a cara na certeza da vitória e que apenas se serviram do partido para hoje conseguirem lugares de topo em lugares de administração das maiores empresas deste país. Sentados nessas cadeiras e com os ordenados chorudos que auferem esquecem-se do partido.
Como diz o povo, com amigos destes quem precisa de inimigos, porque daqueles de que ideologicamente e politicamente já discordam de nós, já esperamos tudo.
“Inimigo nº. 1”- A comunicação social. A mesma que durante muitos anos lhe deu protagonismo e o ajudou a construir de bon vivant (e que ele erradamente permitiu e que agora era difícil de “despegar”), agora ela assumia uma outra posição, que como vive numa pobreza diária de notícias, achou ali um filão de ouro, com as confusões que ora os membros do Governo ou do próprio partido iam arranjando todos dos dias. Naqueles dias antes de PSL tomar posse como PM, bastava ouvir os comentadores na rádio e vinha sempre a baila que o PR poderia dissolver a Assembleia da República antes dos seis meses de exercício.
Efeito maravilha, numa sociedade ignorante, estúpida, sem cultura e mal informada que apenas sabe olhar para o seu umbigo e não sabe avaliar que a crise económica não apenas se sente no nosso país, mas que infelizmente é um mal que invadiu parte da Europa e outras partes do mundo. Um povo miudinho que em vez de ler, ir ao cinema, ao teatro e se se preocupar com a sua própria vida, não, preocupam-se, mais com a dos outros. Interessava mais saber com PSL saía, dormia, qual discoteca ia. Achei a última campanha eleitoral a de mais baixo nível de sempre, quando se punha em questão de José Sócrates era gay ou não. Os portugueses têm de aprender de vez que no desempenho das funções no trabalho de cada um interessa é a sua competência e não a sua vida pessoal.