10 junho 2005

DIA DE PORTUGAL, DAS COMUNIDADES PORTUGUESAS E DE CAMÕES

AS armas e os Barões assinalados
Que da Ocidental praia Lusitana
Por mares nunca de antes navegados
Passaram ainda além da Taprobana,
Em perigos e guerras esforçados
Mais do que prometia a força humana,
E entre gente remota edificaram
Novo Reino, que tanto sublimaram;
E também as memórias gloriosas
Daqueles Reis que foram dilatando
A Fé, o Império, e as terras viciosas
De África e de Ásia andaram devastando,
E aqueles que por obras valerosas
Se vão da lei da Morte libertando,
Cantando espalharei por toda parte,
Se a tanto me ajudar o engenho e arte.
Assim, começa o Canto Primeiro, dos “Lusíadas”. Será que ainda somos dignos das glórias cantadas pelo grande Poeta? Eu tenho orgulho de ser português, embora em certas horas, muito do que vai acontecendo no nosso país me entristece.
Os géneses que herdamos, daqueles homens que partiram há quinhentos anos num espírito completamente aventureiro para destinos completamente desconhecidos, continuam embrenhados em nós. Ainda somos um povo viajante, emigrante, aventureiro, fadista.
É claro que a nossa História, não foram apenas escritas em páginas cor-de-rosa, mas a ideia que tenho é que continuamos a ser respeitados por esse Mundo além, mesmo naqueles países que fomos Descobridores/Colonizadores.
Por aquilo que observo e concluo, que enquanto potência ocupante, nunca fomos tão “agressivos”, como outros países, tais como a França, Inglaterra e Espanha. Entre Portugal e as ex-colónias de África, Timor, Goa, Macau e Brasil, não parece existir a relação de “raiva”, como existem noutras partes do Mundo com os seus antigos colonizadores.
Que enquanto emigrantes, para aqueles países que partimos, somos bem vistos e respeitados e tidos como uma comunidade pacata, trabalhadores e que facilmente se soube integrar.
Que encanto país de turismo, felizmente também somos bem considerados e caracterizados por um povo acolhedor. Fruto dessa genética recebida dos antigos, sempre que recebemos alguém de outro idioma ou visitamos o estrangeiro, tentamos nos comunicar dentro da língua de quem recebemos ou de quem nos acolhe. Eu também sou assim, mas e o nosso português. Este tipo de atitude não se observa noutros países ou por parte dos naturais desses países quando nos visitam.
Hoje somos nós que estamos a ser descobertos, primeiro pelos descendentes já de terceira geração daqueles que emigraram. É interessante o despertar dos luso-descendentes para a nossa língua, para a nossa cultura. Esta nova geração mostra um maior carinho e um maior interesse por Portugal, que os seus próprios avós ou pais, que nasceram aqui e que até revoltava ouvi-los quando no Verão vinham de férias e parece que tinham engolido uma cassete “que o estrangeiro é que é bom”. Mas porque agora estão a voltar?
Porém, somos pequeninos de mais, intrometidos, coscuvilheiros, miudinhos. Vivo cansado de tanta intriga, tanta intromissão na vida pessoal. Se cada um olhasse para o seu umbigo, talvez fosse melhor.