Está um dia frio e triste. Não apetece sair. Deito-me no
sofá, para ver pela janela a chuva que entretanto vem de visita. Cai forte,
soando nas telhas como uma melodia triste. Os pingos batem cada vez mais fortes
nas telhas, parecendo um pianista revoltado carregando brutalmente nas teclas
dum piano desafinado.
Sinto o corpo adormecer e o meu cérebro a viajar pelo
mundo dos sonhos. Vejo surgir-te no horizonte, vestida com uma capa negra. Vais
aproximando-te de mim, mais do que alguma vez estivemos perto. Contemplava-te
apenas através da minha janela quando te via passar na nossa rua. Nem sequer
trocamos palavras de conveniência, e estavas a um palmo de mim. Deixas cair a
tua capa, e o teu corpo sensual apenas fica coberto por um corpete vermelho que
realça as tuas formas e a tua sensualidade. Sinto as tuas mãos a tocar-me, subindo
palmo a palmo suavemente pelo meu corpo. Sussuras algo doce, sinto os teus
lábios a aproximarem-se dos meios, e desperto com o teu beijo. Oh Tareco,
porque me acordas-te dum sonho tão bom.
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