A adaptação desta obra de Eça de Queiroz, por Carlos Coelho da Silva aos nossos dias está perfeita. O dinheiro que investi hoje no bilhete de cinema, valeu a pena. A escolha desde os actores para cada uma das personagens, e o que cada uma deles representa aborda de uma forma muitos dos assuntos sociais hoje em discussão, como a o celibatário obrigatório, a infidelidade conjugal, o aborto, a pedofilia, homossexualidade, a marginalidade ligada aos bairros sociais, o mecenato “interesseiro”, e o “cenário” onde se desenrola o filme, não podia ser melhor.
A história criada por Eça, se já tinha muito de verdade na sua época, acredito que ainda hoje continua a ser actual, que existem ainda hoje muitos Amaros, cónegos Dias, padres Britos, Joaneiras e Amélias.
Eu próprio já me senti vocacionado para o sacerdócio, mas por várias razões e também por não achar que seria capaz de resistir à tentação da carne, preferi ser mais um simples fiel. Posso estar errado, mas não creio que Deus tenha posto como condição para que os anunciadores da boa nova, não pudessem constituir família. A Igreja é feita por homens e podem entender as revelações do seu Deus, erradamente. O Sexo é uma necessidade natural dos seres vivos, algo belo, bom, sem tabus nem limitações para ser partilhado com quem se gosta. Aos homens e mulheres não deve ser impedido de ter sexo quer seja por condições sociais ou religiosas.
Amaro, na sua personagem de padre, representa um pouco de nós em cada profissão queremos fazer quando chegamos. Queremos inovar colocar ideias novas. Muitos padres novos também querem ser inovadores, mas tem sempre aqueles velhos do Restelo, que limitam o seu sacerdócio a rezar missas e comer em casa das beatas. Para muitos, as obras sociais são apenas para manter as aparências. Tal como para as aparências e aparecer nas revistas, muitos mecenas da nossa praça. Outro assunto, que coloca em cena é o desvio de bens da igreja por parte dos padres ou próximos e que muitas vezes revolta populações. A personagem que Nicolau Breyner interpreta, consegue representar o pior de um padre num três em um, fornicador, pedófilo e ladrão.
Tal como na época, já existiam muitas Joaneiras escondidas, também ainda hoje, se comenta nas aldeias pequenas histórias, de “irmãs”, “primas” e “afilhadas” que vivem nas casas paroquias.
A personagem de Amélia de interpretada pela estreante Soraia Chaves, representa de forma muito actual a mulher dos dias de hoje, que luta pelo que ama, sem receio de criticas, que se entrega no sexo sem tabus, mas também uma mulher sofrida, vitima de pedofilia, mas embora de pensamento aberto é de uma moralidade mais pura, que os “puros” da Igreja.
Também hoje, os homossexuais vivem de uma forma mais aberta, sem vergonha de mostrar quais as suas opções sexuais. E os marginais, ali vivem mais como marginalizados e quando apoiados podem ser integrados.